quarta-feira, 24 de julho de 2019

SERRA DOS ÓRGÃOS - TRAVESSIA PETRÓPOLIS X TERESÓPOLIS, AGORA UMA REALIDADE


Quando iniciei o relato desta maravilhosa travessia, pensei que teria de fazê-lo de forma diferente. Diferente como? Agradecendo. 
A três anos atrás coloquei como meta essa travessia e precisava me programar. Precisava primeiramente pesquisar com qual grupo e guia confiar. Me preparar fisicamente e mentalmente para os desafios que lá encontraria e a melhor
época a realizar. 
A melhor escolha foi feita e lá segui para o tão esperado desafio. 
Queria aqui agradecer a todos do grupo (não poderia ser melhor) que em todo percurso me passou força e mãos solidárias não faltaram nos momentos mais difíceis.  
Em especial ao nosso guia Frank Martins  do Bicho Homem Eco Adventures pela organização, comprometimento, paciência e acreditar que eu poderia alcançar mais esta meta. 
PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS

O Parque Nacional da Serra dos Órgãos é uma Unidade de Conservação Federal de Proteção Integral, subordinada ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), cujo objetivo maior é o de preservar amostras representativas dos ecossistemas nacionais. 
Criado em 30 de novembro de 1939, o PARNASO é o terceiro parque mais antigo do país, representando um importante marco na história das Unidades de Conservação Brasileiras.


É um dos melhores locais do país para a prática de esportes de montanha, como escalada, caminhada, rapel e outros; além de ter fantásticas cachoeiras. O Parque tem a maior rede de trilhas do Brasil. São mais de 200 quilômetros de trilhas em todos os níveis de dificuldade: desde a trilha suspensa, acessível até a cadeirantes, até a pesada Travessia Petrópolis-Teresópolis, com 30 Km de subidas e descidas pela parte alta das montanhas. 
Entre as escaladas destacam-se o Dedo de Deus, considerado o marco inicial da escalada no país, e a Agulha do Diabo, escolhida uma das 15 melhores escaladas em rocha do mundo. 
Foi criado em 1939 para proteger a excepcional paisagem e a biodiversidade deste trecho da Serra do Mar na Região Serrana do Rio de Janeiro. São 20.024 hectares protegidos nos municípios de Teresópolis, Petrópolis, Magé e Guapimirim. 

O Parque abriga mais de 2.800 espécies de plantas catalogadas pela ciência, 462 espécies de aves, 105 de mamíferos, 103 de anfíbios e 83 de répteis, incluindo 130 animais ameaçados de extinção e muitas espécies endêmicas (que só ocorrem neste local).www.icmbio.gov.br/parnaserradosorgaos/ 





A TRAVESSIA 

Primeiro dia 

No dia 20 de Julho/19, à 1h da manhã, Na Trilha Certa, juntamente com Bicho Homem Eco Adventures, composto de um grupo de 13 pessoas, partiu  de Belo Horizonte/MG em destino a Petrópolis/RJ, para a mais almejada travessia Petro-Terê, (como é mais conhecida), na Serra dos Órgãos. 

Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, fica a 373 km de Belo Horizonte. Chegamos por volta das 6 h da manhã. Paramos em uma padaria local para um café reforçado antes de nossa grande aventura e logo seguimos para a entrada do parque. 





 




Para entrar no parque é necessário comprar seus ingressos na bilheteria ou pelo site para qual trajeto deseja seguir. Caso seja para trilhas da parte alta, abrigos de montanha e campings parte alta, principalmente na temporada de montanha, faz-se necessário reservar com antecedência pelo número limitado de visitantes. 
Chegando ao parque, identificamos e logo ganhamos uma pulseirinha vermelha indicando que estaríamos seguindo para a Travessia Petrô-Terê. 
Nosso guia Frank nos reuniu para passar alguns informes antes de iniciarmos. 
Estava bem frio típico da estação e região e todos munidos com suas cargueiras pesadas contendo roupas, saco de dormir e todos os suprimentos necessários para três dias de caminhada, tínhamos mais este desafio a superar em nosso primeiro dia: uma subida de 7 km aproximadamente até o Abrigo do Açu, onde seria nossa primeira pernoite da travessia. 
Às 8:30 h começamos finalmente. Seriam 28 km aproximadamente e nossos sete primeiros km não seriam dos mais fáceis. 




Pouco a pouco fomos vencendo os difíceis km de subidas em meio à Mata Atlântica e cada vez mais o cenário nos encantava pelas maravilhas que avistadas do alto. 


.Uma parada para água, fotos e lanche depois de 3 km na Pedra do Queijo. Ali é possível abastecer água e tomar aquele fôlego para continuarmos nossa jornada.  
Mais um km e chegamos no Morro do Ajax. Mais uma paradinha para aquela respirada e continuarmos a subida até o Morro do Açu.











Agora seria a hora de respirarmos fundo para a subida da Isabeloca, um trecho bem íngreme que recebe este nome devido à lenda que a Princesa Isabel não teria conseguido subir e teria sido ajudada pelos escravos, mas existem contradições quanto à esta história. 
Cada vez nos víamos ao alto avistando os principais pontos da Serra do Órgãos.  














A temperatura caindo e o vento cada vez mais forte  tornava nossa subida mais desafiadora. Em poucos metros alcançamos a tão desejada placa “Graças a Deus”. Finalmente o grande chapadão. Mas não se engane. O abrigo do Açu ainda está a 1,6 km de distância. Parece pouco, mas nada é pouco quando se trata dos pontos mais altos da Serra dos Órgãos.  



O grupo se manteve forte e animado o tempo todo e parecia que os desafios eram apenas estimulantes para o que estava por vir.  
Cabe frisar que o caminho a partir de agora é bem marcado por setas no chão indicando a direção.  
Finalmente avistamos os chamados “Castelos do Açu”. Belíssimas formações rochosas gigantescas separadas por fendas, nos tornando pequeninos diante tamanha imensidão e beleza.







 Bem na frente à esta maravilha podíamos avistar o abrigo do Açu, onde seria nosso primeiro abrigo da travessia.  

Fazendo muito frio e vento, só queria entrar e poder me aquecer. Com os quartos definidos, meninas e meninos, cada um seguiu para sua cama. Desde no inicio do parque, já sabíamos que não teríamos como tomar banho. A água estava escassa...isso não foi bom, mas nem por isso ficamos desanimados, afinal, o que seriam dois dias sem banho...rs. 
Uma observação: Não se entra no abrigo de botas, logo, elas são retiradas antes de entrar. Coloque-as dentro de um saco e mantenha com você junto aos seus pertences. Não esqueça de levar chinelos pois ficar de meias não é suficiente para se aquecer. O Chão é muitoooooo frio! 
No nosso quarto ficamos eu, Marina, Rafaela, Elis, Marcelle e Karla, esta não fazia parte de nosso grupo, mas logo já nos enturmamos e ficamos colegas de aventura. 



 Foi hora de muita conversa boa, trocar histórias e conhecer um pouco mais nossas colegas de trilhas. Cada uma com suas experiências, íamos nos tornando um pouco mais conhecidas. Esta é a melhor parte das trilhas, a amizade que acontece em tão pouco tempo com pessoas que jamais se encontrariam em outras situações da vida. 



Mais tarde chegou a hora do jantar. Nos foi oferecido um pacote de jantar e café da manhã e isso foi bastante facilitador por não termos de preocupar com comida. Um peso à menos que faz a diferença nas mochilas. Estava delicioso!  O frio e o esforço físico nesta hora foi compensado. 
Depois do jantar, alguns rapazes do grupo se arriscaram de sair no frio para apreciar algumas estrelas, mas não me arrisquei. Precisava descansar para nosso segundo dia. Seria o mais pesado e tentava psicologicamente não pensar nos desafios que estavam por vir por mais que eles fossem uma realidade. 


 Segundo dia 


Às 6 h da manhã já estávamos de pé nos preparando para nosso segundo dia.
Tomamos café e bem alimentados, nos preparamos com gorros, luvas, corta-vento e baterias carregadas para muitas fotos. 

 Muita névoa, frio e vento. Este era nosso cenário fora do abrigo.   


Às 8 h começamos nossa jornada ao segundo e mais desafiador da travessia. 

Ventava muito. 
A sequencia de subidas e descidas íngremes nos indicava a dificuldade do percurso. Seriam oito vales de subidas e descidas pesadas. 




























Ao adentrarmos no meio da mata, quanta biodiversidade. Na verdade me senti num verdadeiro cenário de floresta encantada. Aqueles musgos, árvores enormes, sombrias, úmidas, raízes à mostra...se senti maravilhada e muito próxima e minha essência. Queria passar o mais devagar por aquele cenário. Poder contemplar cada pedacinho minuciosamente, mas o tempo era nosso inimigo e não podíamos chegar ao anoitecer. Ficava pra trás para poder contemplar um pouco mais de cada trecho. Mas precisava me apressar. 






 A cada descida, uma subida e de repente nos deparamos com o primeiro grande desafio: o elevador 
O elevador consiste de uma escada de grampos fixados nas rochas em um paredão de 90 graus com 50 metros de altura. Uma subida bem perigosa que exige muita atenção, paciência e cuidado. Não sei dizer quantos degraus ao todo, mas com certeza eram mais de 30. Sei que nesta hora senti muito medo. Não olhei para baixo e só pensei: tenho e subir e fui. Na verdade, tive de confiar que aqueles grampos estavam bem fixados e que suportaria o peso. Que medo! 









 







Ao subirmos o elevador nos encontramos  no topo da Pedra do Dinossauro, onde paramos para nosso primeiro lanche, descansarmos e seguirmos para o próximo desafio à frente. 
Passamos agora pelo morro da Baleia, depois mais uma descida, outra mata e finalmente chegamos no desafio do "mergulho".






O Mergulho consiste em uma enorme pedra sem muito como descê-la e assim é necessário a ajuda de cordas e apoio nas pedras que não ficam muito próximas. As pessoas passam uma de cada vez e eu sinceramente não pensava que iria ter tanto medo. Sem muito apoio e segurando na corda, dá uma sensação de desproteção e sentimento de queda. A rocha tem aproximadamente 2,5 metros de altura e faz-se necessário esta ajuda. Não tenho muita habilidade com as cordas e realmente, hoje refletindo bem, sinto que o mais me assustou foi o psicológico. Por mais que eu me atentasse aos perigos desta travessia, não me estava preparada para tais desafios.


Pedra do Mergulho







Finalmente consegui mais essa, mas estava trêmula e muito cansada com o estresse deste momento. Sei que cada um tem seu limite e desde então começou um pânico interno para o terceiro desafio, mesmo sem conhecê-lo: o cavalinho.
Sabia dos desafios. Escutei algumas pessoas. Por dois anos desisti, como já relatado anteriormente, mas agora estava ali. Estava amando tudo que estava vivendo, a turma, uma aventura e tanto e precisava concluir.
Olhava para aquele gigante de pedras ao meu lado e via outro grupo à nossa frente bem no alto. O que estaria nos esperando lá? 















 Começamos nossa subida e cada vez mais alto, meu coração já pulava de emoção, medo, euforia...sei lá, eram tantas sensações e nem sei descrever. Fazia frio e ventava muito. De repente estávamos bem ali, frente ao desafio do "cavalinho".

 O "cavalinho" é o ponto mais temido pelo trilheiros que fazem a travessia. A pedra do Cavalinho tem este nome por ser uma pedra vertical onde há a necessidade de montá-la como se fosse um cavalo e se colocar para o outro lado e contornar a Pedra do Sino.
Nosso guia Frank subiu na frente já nos mostrando de como fazer para chegarmos e ultrapassarmos a pedra do cavalinho. Já no alto amarrou uma corda a qual apenas serviria para nos segurarmos. Um a um, fomos passando e seguindo as orientações de Frank. Alguns com mais dificuldade e outros não. 
À esquerda o Vale da Morte. Era melhor nem olhar. 
Observando as pessoas, eu pensava...até que não e tão difícil assim...
Chegou minha vez. Tentei escutar as orientações de Frank mas não conseguia colocar meu pé no lugar indicado. Sei lá. enroscava a corda no meu braço e não conseguia sair do lugar. A mochila pesava, não dei conta, precisei recuar. O PÂNICO tomou conta de mim mas eu não conseguia gritar ou chorar. Precisava passar. Estava ali porque queria e eu iria passar!
 Quando olho para baixo, chega mais um grupo e agora mais que nunca não podia ficar ali. O guia do outro grupo veio me dar um apoio e tomei coragem e fui seguindo aos comando de Frank e do outro guia, mas tive de retirar a mochila. Atrás de mim estava nosso colega de trilha Anailton, Alex e Marcelo que  foram anjos me dando forças. Sempre acreditei em anjos e vejo que eles são nossos grandes companheiros de trilha.
Conseguido ultrapassar o cavalinho, parecia que estava meio que em choque, outros obstáculos vieram à frente, mas para falar a verdade, nem sei mais relatar...fui passando e só conseguia  lembrar das palavras de Frank: - Sophia, você tem de passar, nós não podemos mais ficar aqui! 

Dali em diante, não demorou muito e já chegamos no nosso segundo abrigo: O Abrigo 4 da pedra do Sino.
Este abrigo é bem mais baixo que o do Açu, e já não senti tanto frio assim. O banho? Desta vez até tinha água, mas fria! Só rindo mesmo! água de geladeira, para especificar.
Já dentro do abrigo e em nosso quarto, sentei na cama e não conseguia parar de pensar nos minutos atrás que se passaram, alias acho que isso não vai passar, parecia estar em choque. Tentei relaxar rindo muito com o grupo das caras e medos de todos neste dia desafiador e que com certeza marcou nossas vidas.
Me arrisquei tomar um banho de geladeira e consegui relaxar e me esquentar facilmente.

Terceiro dia

Às 5h da manhã estaríamos de pé para finalizar nossa subida até o topo da Pedra do Sino e ver o nascer do Sol. A Pedra do Sino é o ponto culminante da Serra dos Órgãos com 2.275 m. De lá se avista a Baía de Guanabara no Rio de Janeiro.
Estava muito cansada e me encontrava estafada pelo tamanho estresse do dia anterior e não me propus a ir. Ainda bem que mudei de ideia!















 Em meia à escuridão e ainda com lanternas lá fomos nós a subir os 900 metros até o topo da Pedra do Sino. Ventava muito e um frio sem igual, mas continuamos a subir.
Os primeiros raios já começavam aparecer no horizonte. Um espetáculo da natureza sem igual! Sempre me encanto, não tem como não.
No alto da Pedra do Sino observávamos aquela estrela maior dando seu bom dia! 
O bom dia de uma linda segunda-feira, 22 de Julho de 2019! Uma emoção tomou conta de todos nós e muito felizes e tirando o melhor ângulo para fotos, não economizamos nos flash!
Já de volta ao Abrigo 4, tomamos nosso café da manhã, arrumamos nossas mochilas e preparamos para a descida de 12 km até a portaria do Parque, mas agora já em Teresópolis.

Sempre do alto já conseguíamos avistar Teresópolis. Partimos às 8:30 h do abrigo e às 11:45 h já tínhamos vencido os 12 km da descida e nos encontramos na entrada do parque.
Nossa Van já estava a nos esperar. Trocamos nossas roupas e seguimos para um restaurante em Teresópolis para um almoço.
Daí em diante, foram puras risadas, lembranças de momentos ainda recentes, caras e bocas e novos planos de trilhas futuras. 



Nosso retorno a Belo Horizonte foi tranquilo e na certeza que novas amizades há de surgir entre os integrantes deste grupo maravilhoso. 
Finalizo este relato como o início, agradecendo. Me propus a fazer e fiz. 
Cada integrante deste grupo com suas mais variadas resistências venceram seus desafios mais íntimos: dores, medos, inexperiência, falta de preparo, lesões mal curadas, frio, noites mal dormidas, mas nenhum destes foram maiores que a vontade de se superar. 
Vejo este grupo como grandes guerreiros. Guerreiros pela força e determinação e anjos pelas mãos amigas e acolhedoras de momentos que pareceram não haver forças para continuar. 
Agradeço a cada integrante do grupo pela sensibilidade de compartilhar experiências e entender a dificuldade alheia. 
Petrô-Terê está marcada como a trilha de maior dificuldade técnica até hoje vivida por mim. As belezas que ali presenciei foram maiores que todas as dificuldades e TUDO valei à pena!
Agradeço à Marina pelo apoio e atenção a todo instante desde que sentei ao seu lado na van, pude sentir sua sensibilidade e o quanto seria importante nesta travessia. 
Adailton



Alex
No Monte Roraima tive dois Anjos que me seguiram a todo instante, Marina e Felipe e agora em Petrô-Terê novamente, Marina. Não desista de trilhar Marina, Caldas Novas ainda está longe de sua realidade! Rs
Guerreira Marina! Sua frase não saírá da minha memória: "- Quase morri! "se referindo ao 'cavalinho'.
 As mãos amigas que na hora certa estavam lá para ajudar, agradeço cada uma delas.
Vinicios

Às fotos maravilhosas de todo o grupo, que nos trouxe a realidade mais nítida das imagens ao blog Na trilha Certa.



Frank Martins / Bicho Homem Eco Adventures
Ao nosso guia Frank Martins, só elogios mais uma vez por tanto compromisso e responsabilidade por nos guiar pela travessia mais cobiçada e linda do Brasil. As palavras de apoio e firmes na hora certa fizeram a diferença. Em nenhum momento conseguiu mostrar nervosismo sempre passando segurança nos desafios mais difíceis, onde a palavra sábia soube conduzir a situação. Você confiou que eu poderia concluir e não poderia te decepcionar. Que Deus continue te protegendo por esta jornada a que se propõe. Cada conquista e sonho realizado, com certeza você faz parte dele! 


Querem fazer a Travessia Petro-Tere? Se preparem fisicamente, psicologicamente e procurem um bom guia, no final, TUDO, vale a pena!
Muitos desafios ainda virão por este Brasil e ainda pelo mundo, mas esta travessia foi única e na certeza que as maravilhas de Deus são ainda maiores que tudo que o homem possa alcançar.


ATÉ A PRÓXIMA AVENTURA!